Um humanista é aquele que por causa do ambiente ao qual foi exposto, se interessa pelo futuro da humanidade. É aquele que não descansa com os louros conquistados para si e que evita a inércia e o comodismo, e afirma que qualquer pessoa pode transcender o ambiente com coragem, porque, em outras palavras, tem liberdade de escolha. Imi, por toda a vida lutou em guerras e conheceu todas as faces da violência. Enfrentou inimigos, liderou batalhas e mostrou que todos temos a opção de sobreviver à luta, seja ela qual for. Ensinou a homens simples como utilizar o próprio corpo, transformando-os em soldados imbatíveis. A eficácia de seus ensinamentos surpreende e sua obra é reconhecida no mundo todo. Sua criação torna-se a filosofia de defesa do Estado de Israel e unidades militares de elite ao redor do mundo utilizam suas técnicas. O ensino a civis devolve ao cidadão comum a autonomia, mostrando que qualquer um é capaz de defender sua integridade de qualquer situação de violência do dia a dia. Imi idealizou, realizou e doou à humanidade seu exemplo, sua postura, seus ensinamentos e sua força.
“Seja bom o suficiente para evitar o conflito.”
“Resposta simples e natural para situação complicada.“
“Mínimo de movimento de defesa contra máximo movimento de ataque.”
“Faça: mas faça certo.”
“Reaja na proporção da necessidade.”
Quem teve o privilégio de conviver com Imi, ouviu frases como essas. Costumava sentar-se com seus alunos em uma cafeteria chamada “Ugati” na cidade de Natanya, Israel, e podia falar por horas sobre Krav Maga e suas técnicas. Acreditava na essência do ser humano, e que todos podiam ter suas vidas melhoradas pelo caminho de vida correto. Uma pessoa que tinha a grandiosidade de ouvir diferenças e divergências como pequenas e insignificantes questões diante uma hierarquia de valores onde a relação pessoal de boa convivência está acima de tudo e deve ser preservada. Via a vida com simplicidade, recebia a todos com coração aberto e sempre tinha uma mensagem a transmitir. Quem se sentava ao seu lado, percebia imediatamente que se tratava de uma pessoa diferente; iluminada, e com grande força de espírito.
Sua postura e atitude diante às situações que a vida lhe proporcionou, mostram o caminho que o levou a criar sua obra. Ir além; enfrentar injustiças, ameaças, armas, guerra e a morte. E ensinar a todos como fazê-lo também. E não parou por aí. Se preocupou em chegar mais longe ainda, formando discípulos que formariam outros discípulos e assim fazendo com que as técnicas de sobrevivência que formulou pudessem chegar ao maior número de pessoas possível, e assim continuando nas futuras gerações.
Imrir Lichtenfeld (Sdeor), nasceu em 26 de maio de 1910 em Budapeste, centro do império austro-húngaro. Cresceu e se criou em Bratislava, capital da Eslováquia.
Seu pai, Samuel, foi chefe do serviço secreto local e instrutor de defesa pessoal e técnicas de imobilização da polícia secreta; condecorado e conhecido como o detetive que mais prendeu criminosos perigosos. Imi acompanhava seu pai, sugerindo movimentos e técnicas que quando utilizadas pelos policiais funcionavam com grande eficácia. Seu tio era médico e isso garantia acesso aos livros e ao conhecimento sobre o corpo humano. Incentivado por seu pai, Imi começou a praticar várias modalidades de esportes e já em 1928 e 29 venceu vários campeonatos europeus de luta livre greco-romana e no mesmo ano se tornou campeão de boxe. Na década seguinte, Imi se concentrava na luta-livre greco-romana como atleta e instrutor conquistando várias medalhas em competições nacionais e internacionais. Sua formação tinha como base a lei, a medicina e o esporte.
A partir de meados dos anos trinta a vida em Bratislava já não era a mesma. Pouco a pouco, grupos fascistas e anti-semitas ganhavam espaço e transformavam a vida do país. Confrontos de rua, perseguições e morte eram a nova realidade. Imi tornou-se líder de um grupo de resistência que lutava contra os grupos fascistas. Entre os anos 1936 e 40, participou de inúmeros e violentos confrontos, sozinho ou em equipe. Imi e seus companheiros enfrentaram centenas, milhares de inimigos em uma guerra cruel e desigual. Todos esses acontecimentos e vivências pessoais de Imi trouxeram como conseqüência o fortalecimento de seu corpo e espírito, preparando-o para os acontecimentos que ainda estavam por vir, e plantaram as sementes que germinaram resultando na criação do Krav Magá.
Em 1940, Imi deixou sua terra natal, família e amigos e ingressou na última embarcação que conseguiu escapar das garras nazistas. Não passava de uma simples balsa, chamada "Pentcho", que foi adaptada para conseguir transportar centenas de pessoas que deixavam a Europa rumo a Israel. As histórias desta balsa e seus passageiros ficaram famosas e são descritas no livro "A Odisséia" de John Birman. A "Odisséia" de Imi durou dois anos, onde, por várias vezes, pulou na água para salvar a vida de passageiros ou um valioso saco de comida percorrendo o rio Danúbio congelado. Estas "aventuras" lhe causaram uma forte inflamação no ouvido que quase o levaram à morte. E após uma explosão no tanque de pressão da embarcação, que aconteceu ao lado das Ilhas Gregas, a sua ajuda foi requisitada e depois de quatro dias e noites de grande esforço, chegou à terra firme e então foi capturado e levado para a Alexandria em grave estado de saúde, onde se submeteu a várias cirurgias.
Recuperado, juntou-se ao exército Checo que lutava ao lado do exército britânico e foi assim que Imi lutou no Oriente Médio, em combates na Líbia, Síria, Líbano e Egito. Até que em 1942, deu baixa no exército e recebeu licença para entrar em Israel, onde começaria uma nova fase de sua vida.
A chegada ao Estado de Israel representou para Imi apenas mais um passo em sua trajetória, sem perceber, no entanto, que este "pequeno" passo iria ser um marco, que influenciaria e direcionaria toda a história do povo judeu no Estado de Israel. Já nesta época, meados de 1942, existiam movimentos de defesa, figurados em três grupos; Haganah, Hetzel e Lehi, que lutavam para garantir a sobrevivência do povo que ali vivia, principalmente contra os ataques dos "Fedainim", bandos de criminosos muçulmanos que saqueavam, seqüestravam e matavam com requintes de crueldade. No grupo de defesa Haganah, a maior organização dentre as três, integravam alguns de seus velhos companheiros e alunos do Império Austro-Húngaro, que prontamente apresentaram Imi ao chefe da Haganah, Yitzhak Sadeh, que por sua vez nomeou-o de imediato como responsável pela preparação física, defesa pessoal e combate corpo a corpo de sua organização.
Em particular, Imi treinou pessoalmente os grupos de elite da Haganah e a Palmah e entre eles os "P.A.L.I.A.M.". Este último foi a base para a formação dos grupos de elite das forças armadas israelenses anos depois.
Com a criação do Estado de Israel, Imi se alistou no "Tzahal", tornando-se o instrutor chefe de preparo físico e Krav Magá; começando somente no exército e depois ampliando para a escola de preparo físico de todo IDF. Nos 20 anos seguintes, Imi aperfeiçoou sua técnica especial de defesa pessoal e combate corpo a corpo. Treinou pessoalmente os melhores guerreiros dos melhores grupos de elite das forças armadas israelenses; pessoas que, com a técnica, habilidade e coragem mudaram o destino das operações e guerras que ali iriam acontecer. Saindo da ativa como instrutor do Tzahal, adaptou e adequou a técnica do Krav Magá para o mundo civil, tornando-o eficiente e acessível para todo e qualquer ser humano, o forte, o fraco, homem ou mulher, criança ou velho. Para isto, abriu dois centros de treinamento, um na cidade de Tel Aviv e outro em Natanya. Neste processo de "abertura", selecionou um pequeno grupo entre os melhores alunos que iriam se tornar os responsáveis pelo Krav Magá no futuro. Em 1978, fundou a Associação de Krav Magá em Israel.
Imi Lichtenfeld foi até seus últimos dias, assessor e conselheiro das forças armadas de Israel, além de treinar os faixas pretas mais graduados de Krav Magá e estar presente nos encontros e seminários de praticantes de todo o mundo que aconteciam em Israel, supervisionando e transmitindo pessoalmente suas experiências, descobertas e o significado prático de sua criação, o Krav Magá.
Em carta oficial de "Honra ao Mérito", o chefe do Estado Maior das forças armadas escreve que desde a época da Haganah e Palmah, passando por todos os anos do Tzahal, a capacidade de guerrear e o potencial pessoal de Imi, que foram os alicerces da qualidade do guerreiro israelense, e não houve ninguém mais responsável por este resultado, por esta conquista, que Imi Lichtenfeld. Na mesma carta é dito que a qualidade do Krav Magá é resultado do valor humanitário de Imi que é estruturado na simplicidade, objetividade, auto-controle, segurança máxima no treinamento e combate, honestidade e respeito para com o adversário, mesmo ele sendo um inimigo.
Em carta escrita pelo Ministro da Educação e Cultura, Zvulum Amer, é reconhecida a importância da preparação da juventude israelense para enfrentar a violência do dia a dia e, por este motivo, o Ministério da Educação apóia o ensino efetivo de Krav Magá em todas as escolas. O Ministro então agradece a Imi pela criação de técnica tão eficiente, qualificada como mérito azul e branco. Azul e branco é um termo usado em Israel para pessoas que honram o país. Azul e branco são as cores da bandeira de Israel.
O Primeiro Ministro Yitzhak Rabin Z''L declarou em carta que Imi Lichtenfeld é sinônimo de "tornar um soldado ou comandante israelense capaz", sendo estes "dois" uma parte em evidência do sucesso das operações do Tzahal.
Para a tristeza de toda a família Krav Magá, Imi Lichtenfeld faleceu no dia 9 de Janeiro de 1998.
Mas sua obra vive. Seu sonho de vida atravessou fronteiras e já chegou a mais de 40 países. Aqueles que nunca o conheceram pessoalmente ou os horrores das guerras que ele enfrentou, abraçam seu caminho de vida. Suas palavras de sabedoria e simplicidade ainda são ditas nas salas de aula do mundo inteiro. Em maio de 2010, iremos estudar, lembrar, contar e praticar sua obra; concretizando seu sonho de tornar-nos a família Krav Maga. Partindo de uma iniciativa da Federação Sul Americana de Krav Maga, encabeçada por mestre kobi Lichtenstein, Federações e mestres de todo o mundo se juntam nesse grande empreendimento, que está sendo realizado com enorme entusiasmo e dedicação. Além de seminários, passeios e apresentações audiovisuais e teatrais, a confraternização entre praticantes de várias culturas e a entrega de homenagens a todos que trabalham no desenvolvimento do Krav Maga no mundo serão os pontos fortes da ocasião. A grandeza de um homem e a força de seus ideais são medidos pela multiplicação de seu eco através dos tempos. Krav Maga 2010 será um marco de união em torno de um ideal de um homem em seu aniversário de cem anos, mas sendo verdadeiro para nossos dias atuais, com a mesma força, objetividade e simplicidade dos tempos de origem. O evento irá proporcionar a todos que não conheceram Imi, a entender seu modo de ver o mundo; com discussões, filmes, treinos e demonstrações com mestres que foram seus alunos diretos. A opção de ser autônomo, romper barreiras, de defender-se de qualquer ameaça; se ainda não sabe qual o caminho, participe do Krav Maga 2010.
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